Opinião Livro

Grita, Laurie Halse Anderson



Título Original: Speak
Autor: Laurie Halse Anderson
Editora: ASA
Páginas: 176
ISBN: 9789892316833


 Sinopse



"Desperdicei as últimas semanas de agosto a ver desenhos animados da treta. Não fui ao centro comercial, ao lago, à piscina, nem atendi chamadas. Entrei na escola secundária com o cabelo errado, a roupa errada, o feitio errado. E não tenho ninguém sentado a meu lado."

Melinda Sordino é a pessoa mais odiada do Liceu de Merryweather. No final do verão chamou a polícia, acabando com uma festa e colocando em sarilhos alguns dos finalistas mais populares da escola. Mas Melinda tem um segredo que guarda bem fundo, dentro de si, e que não pode contar a ninguém. Mas Melinda está a ser corroída pelo que aconteceu, e o mundo de reclusão que construiu para si ameaça ruir a qualquer momento.


Para quem não conhece a escrita de Laurie Halse Anderson possivelmente não faz ideia dos temas que aborda. Eu desconhecia e quando iniciei a leitura de Grita andei um pouco à deriva até que comecei a perceber que algo de muito mau teria de ter acontecido à personagem principal, Melinda Sordino. Assim que entramos na história não é difícil descodificar o que terá originado a mudança de postura da Mel.

Ao iniciar o ano lectivo, a Melinda começa por descrever a jornada das suas semanas. Faz descrições das aulas, da maneira de ser dos professores assim como a dos pais, e como as suas ex-amigas e uma nova amizade a tratam. Mesmo no 9º ano, são várias as referências aos grupos que se formam nas escolas americanas, e que à partida, todos os alunos têm de estar inseridos num grupo.


A abordagem deste livro é simples. Entrar na cabeça de uma adolescente e desconstruir todos os pensamentos que lhe vão surgindo, mas não é simplesmente retratar o dia-a-dia, pois acho que isso é fácil. É dar destaque à maneira como uma rapariga resolve controlar um problema grave. O isolamento, a falta de confiança nas pessoas, o medo, a falta de apoio e o tentar ignorar o problema são os novos problemas que despoletam na Melinda. Para lidar com a dor a maneira mais eficaz é deixar de falar, apenas tem vontade de gritar em algumas alturas e achei interessante quando entra dentro do armário e agarra na roupa para abafar o som do grito. Isto sim, é desespero. Ou utilizar a dispensa da escola para colocar todos os trabalhos que vai realizando na aula de artes. Acho que se não fosse o professor de artes a insistir no projecto, a Melinda não teria conseguido chegar ao ponto em que acabou o livro. Foi única pessoa que sempre insistiu para que falasse, já que o papel dos pais nesse âmbito, foi inexistente.


E ao ler este livro fiquei ainda mais com a noção de que os pais não têm a percepção real de que os filhos sofrem, muitas vezes. Acho que quando alguém mal fala, começa a baixar as notas (e tinha boas notas) e deixa de ter a vida social que tinha até então é porque realmente alguma coisa se passa. Ninguem o deixa de fazer só porque lhe apetece, tem de haver uma causa-efeito para o sucedido. E a maneira como a autora descreveu os pais da Melinda não podiam encaixar mais neste perfil.


O livro desperta várias emoções no leitor, pois é difícil ficar indiferente. Quando se nota claramente que uma pessoa está deprimida e tudo em volta permanece igual e não há qualquer atitude de compaixão, é difícil ignorar. Já diz o ditado “pior cego é aquele que não quer ver,” e isso traduz em plenitude este livro. O silêncio gritante de ajuda da Melinda é o de muitas pessoas por este mundo fora. Só vemos aquilo que queremos ver, mas quando a desgraça nos bate à porta todos queremos apoio. É revoltante perceber que entenderam que ela ao telefonar para a polícia queria estragar a festa, mas nunca ninguém tentou perceber junto dela o real significado daquela atitude. Este livro reflecte que o nosso mundo vive bem cego!


Acrescentar que o filme já foi adaptado ao cinema em 2004. Estou curiosa em relação a ele, só tenho pena é que é protagonizado pela Kristen Stewart.


Citações:

"O objectivo de não falar sobre isso, de calar a recordação, é fazê-la desaparecer. Mas não. Vou precisar de ser operada ao cérebro para arrancá-la de lá."

"Quando as pessoas não se exprimem, morrem um bocadinho de cada vez. Ficarias chocada se soubesses quantos adultos já andam mortos por dentro."

Classificação: 4 de 5*
 


 
 


 

 
 
 
 
  

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