Livros:



Plano de Leituras do Mês: Maio


Planeei ler os seguintes livros:

Mas acabei por ler:


Assim sendo, só li o Do Céu, Com Amor, ainda comecei o Insurgent mas não sei o que se passa comigo que não ando com vontade de o acabar :S
Mas fiquei contente na mesma, queria ter lido 6 livros mas acabei por ler 9.


Opinião Livro

A Criança Que Não Queria Falar, Torey Hayden



Título Original: One Child
Autor: Torey Hayden
Editora: Editorial Presença
Páginas: 240
ISBN: 9789722336840
Colecção: Grandes Narrativas

Sinopse

Era uma criança de seis anos insociável, violenta, perdida num mundo de raiva e sofrimento... até encontrar uma jovem e brilhante professora.
Esta é a história verídica e comovente da relação entre uma professora que ensina crianças com dificuldades mentais e emocionais e a sua aluna, Sheila, de seis anos, abandonada por uma mãe adolescente e que até então apenas conheceu um mundo onde foi severamente maltratada e abusada. Relatada pela própria professora, Torey Hayden, é uma história inspiradora, que nos mostra que só uma fé inabalável e um amor sem condições são capazes de chegar ao coração de uma criança aparentemente inacessível. Considerada uma ameaça que nenhum pai nem nenhum professor querem por perto de outras crianças, Sheila dá entrada na sala de Torey, onde ficam as crianças que não se integram noutro lugar. É o princípio de uma relação que irá gerar fortes laços de afecto entre ambas, e o início de uma batalha duramente travada para esta criança desabrochar para uma vida nova de descobertas e alegria.




Quando aconselhava os livros da Cathy Glass falavam-me sempre dos livros da Torey Hayden. E como não tinha nenhum livro dela, emprestaram-me este. E que dizer?! Apenas que é tão bom ler estas histórias porque me faz perceber que afinal neste mundo existem pessoas que não são apenas mais umas entre tantas, mas que fazem a diferença, marcam pela diferença e mudam um rumo que, à partida, está destino ao insucesso.

É assim este livro baseado numa história real. Originalmente publicada em 1980, esta história poderia ser remetida aos nossos dias. Pode parecer patético aquilo que vou dizer, mas foi com surpresa que verifiquei que esta história se passou há mais de 30 anos, onde os recursos eram escassos mesmo em países com os EUA, mas que bastou haver alguém com coragem suficiente para mudar a vida da Sheila, a protagonista desta história.

Sheila tem apenas seis anos mas já se viu confrontada pelo abandono da mãe e do irmão mais novo, é vítima de violência pelo pai alcoólico que assim a tenta colocar na linha, também é obrigada a ignorar qualquer ajuda dos outros porque o pai não aceita caridade. Por isso, usa todos os dias a mesmas jardineiras e t-shirt, completamente sujas e a cheirar a urina. Também não toma banho, porque o pai apenas traz água para casa para outras utilidades. Não confia nos outros, nunca chora e aparentemente é um perigo para a sociedade, porque incendiou um rapaz. E é neste estado que é colocada na turma especial de Torey Hayden, enquanto espera por uma vaga num hospital psiquiátrico.


Tal como Torey havia pensado, uma criança de 6 anos, independentemente do que tenha feito até aqui, é sempre uma criança. Todas as atitudes da Sheila eram um culminar de algo que já lhe tinha acontecido. A maneira de se proteger e saber que apenas pode contar consigo, a maneira de mostrar aos outros que é forte e não ceder uma única lágrima quando é castigada, ou a maneira com que reage perante os outros e perante o falhanço. Todos nós achamos fácil julgar os outros mas nunca questionamos que por detrás de todos aqueles comportamentos tem de estar uma causa-efeito. E é verdade que nem tudo pode servir como desculpa, porém se muitas vezes nos colocássemos do outro lado perceberíamos muito melhor a suas atitudes.

Assim começamos a conhecer uma nova Sheila. Uma criança dotada de uma inteligência incrível, adora cálculos e ler, mas durante metade do livro odeia escrever. Acaba por ceder e no final do livro a Torey é recompensada por um poema da sua autoria. É uma miúda cheia de força e lutadora, tenta não mostrar vulnerabilidade perante os outros nem perante as adversidades da vida. De alguma maneira tenta aceitar a sua realidade, apesar das muitas questões que lhe assolam a alma. Nota-se nos diálogos com a Torey que tem uma mentalidade para além dos seus 6 anos. Com uma coragem incrível, este pequeno ser, mostrou que não importa de onde viemos, o que importa é onde vamos chegar. Adorei o momento em que ela ficou encantada com os malmequeres «o meu coração estar tão grande e creio ser a pessoa mais feliz do mundo.» Uma criança que apenas queria ser amada e valorizada.


Este livro não me fez só apaixonar por esta criança, mas por todas as outras da “sala dos malucos” assim com os colaboradores da Torey. Anton, um hispânico que graças a este trabalho percebeu o gosto que tinha em ajudar crianças e no final do livro ficamos a saber que foi aceite na Universidade, e a Whitney, uma rapariguinha de 14 anos que ao menos naquela sala se sentia aceite. Mas o reconhecimento vai para a Torey, de Janeiro a Maio os progressos da Sheila são extraordinários, e sem ela, a Sheila nunca teria tido a oportunidade de entender que tem potencial e que há amor em qualquer lado, mesmo que nos tenhamos de separar uns dos outros. Temos de cativar, como fez a raposa e o principezinho do Principezinho. Mesmo a maneira de dar aulas e de focar a importância de discutir assuntos pesados com crianças foi brilhante. Todas estas crianças tinham problemas mas ali queriam só ser aceites e valorizadas.


Único ponto que desgostei foi a tradução. «Grudado» não é um termo de PT-PT mas PT-BR, assim como esta frase «estávamos um pouco bebidos», sinceramente não percebi esta escolha de palavras.

Recomendo vivamente para quem gosta de histórias verídicas e que contenham aparentes finais felizes. Não nos é dito como continuou a vida da Sheila, mas pelo menos, as 237 páginas deste livro, lembram-nos que foi preciso uma pessoa acreditar para mudar o curso da vida desta criança, nem que seja só durante algum tempo. Um livro único.


Citações:

“E a melhor forma de se proteger da rejeição dos outros consistia em ser-se o mais detestável possível. Assim, o desamor nunca seria uma surpresa. Apenas pura e simplesmente um facto.”

“Apercebi-me, tristemente, de que nunca compreendemos o que é estar na pele do outro. E que, longe de aceitarmos essa verdade, fingimos compreender tudo, mau grado as limitações da nossa carne. Sobretudo a nível das crianças. Mas a verdade é que a nossa ignorância é total.”


Classificação: 5 de 5*